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Considerações Extemporâneas sobre o Agronegócio

 Questões do Enem 2023 alarmaram os decadentes morais, uma vez que chacoalharam um de seus ídolos ocos, chamado agronegócio. Por meio de seus discursos falsificadores, eles difundem uma ideia totalmente sem contato com a realidade. Entretanto, é isso que os consolidam no poder, eles precisam criar um espaço em que seu discurso falso faça sentido, precisam cegar o seu rebanho. 


Assim diz o martelo

 1. "Agro é tech, agro é pop, agro é tudo" - Eis a fórmula para a estupidez.

 2. O objetivo é claro: conquistar, por meio de um discurso moral, o consenso na sociedade brasileira de que o setor econômico, recentemente intitulado de agro, é que assegura a economia nacional. Com isso, sua moral decadentista tenta, a qualquer custo, posicionar a grande roça como salvadora da economia brasileira.

 3. Basta apenas uma pergunta: qual país rico e avançado alcançou tais conceitos produzindo e exportando matéria-prima? Respondo: nenhum! Nenhum dos chamados países ricos desenvolveu sua economia sem investimentos pesados nos setores de indústrias e de serviços, acompanhados concomitantemente por investimentos ainda mais sólidos em educação, ciência e tecnologia, posicionado-se, dessa maneira, na divisão internacional do trabalho, da produção e do comércio. A partir dessa indagação, é notável que o Brasil está no rumo contrário às experiências históricas de desenvolvimento das grandes economias capitalistas. Por qual motivo, então, essa questão não é formulada? Isso se deve em razão do desenvolvimento moral brasileiro, que, a partir do cabresto, colocou elites agropecuárias e seus falsos discursos no poder. Eles induzem a massa a crer em seus fictícios avanços. Esses roedores não visam o crescimento econômico da nação, antes, porém, destinam-se à perpetuação no cargo. É o que claramente se vê, nos dias de hoje, nas esferas legislativas e executivas. A bancada roceira, que desfaz qualquer apelo ao desenvolvimento, dissemina um discurso fantasioso, encontrando terreno fértil entre os decadentes brasileiros.

 4. O agronegócio não é o responsável pelo alimento da população brasileira, ele produz commodities, isto é, matérias-primas sem valor agregado para a produção de bens industrializados. E como nosso país sofre um processo de desindustrialização, tudo é destinado ao exterior. Agro, o quintal do mundo.

 5. Ademais, o agronegócio é um claro dependente da tecnologia exterior, ele não é responsável nem pelos fertilizantes usados na própria lavoura, a exemplo do NPK, que somente 20% é produzido ou manipulado no país enquanto os 80% restantes são importados. "Uai", o agro não é tech? A dependência dos fertilizantes é só a ponta do iceberg ante sua dependência tecnológica. Basta reparar também na marca dos tratores utilizados nas lavouras. Agro, um bom cliente dos que são tech.

 6. Se, para produzir commodities simples, é necessário comprar tecnologias de fora, onde está o lucro para o Brasil? É mínimo.

 7. O Agro também não impulsiona uma economia. Basta um exemplo simples: o Brasil vende toneladas de soja para os EUA, enquanto esses pagam as toneladas com uma caixinha contendo alguns Iphone's. Há outros tantos exemplos como o starbucks, que compra o café brasileiro e, depois de agregar valor, vendem-no de volta com um preço muito maior. (não preciso dizer quem lucra mais). Aí se encontra a resposta para a seguinte pergunta: "O que impulsiona uma economia, commodities ou industrializados?"

 8. Citarei aqui um exemplo mais recente. A pandemia da COVID 19 revelou que o Brasil é incapaz de produzir produtos industrializados dos mais simples aos mais complexos, como são as máscaras. Uma mercadoria de simples elaboração revelou muito mais: mostrou a diferença entre produtos manufaturados e matérias-primas no mercado internacional. A Organização Mundial do Comércio (OMC) informou que a China faturou, apenas com a venda de máscaras ao exterior, 40 bilhões de dólares de março a setembro de 2020. Nesse mesmo período, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) divulgou que o Brasil exportou 35 bilhões de dólares em toneladas de soja, farelo de soja, cana e carne bovina. Ou seja, a China ganhou mais dinheiro exportando um produto industrial simples, muito simples, do que toda essa produção agrícola do Brasil. Com atenção a um detalhe: a área ocupada pelos estabelecimentos rurais foram na casa das centenas de milhões de hectares, isto é, áreas infindáveis que geram menos valor do que uma fábrica chinesa. Agro, o deslocado entre as economias pop.

 9. Aos mais ressentidos sobrou a indagação acerca do Produto Interno Bruto (PIB). Seria essa a salvação do agro? Dizer que o agronegócio leva o PIB brasileiro nas costas? A agropecuária compõe a menor fração do PIB brasileiro. Nessa série histórica, o agro contribui, em média, com apenas 5,4% do PIB, enquanto o setor industrial, por mais escasso que seja, contribui com 25,5% e o de serviços com 52,4%. O setor que mais produz mercadorias para exportação é o que menos contribui na composição dos valores do cálculo geral de produção de riqueza. A explicação é simples. As matérias-primas possuem baixos valores em comparação a outros produtos - tecnologia, manufaturados, serviços e etc. - e, no caso nacional, como dito anteriormente, a maior parte da matéria-prima produzida não tem agregação de valor por meio de processos industriais. Na nova classificação de intensidade tecnológica da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), as atividades econômicas da agricultura, pecuária, florestal e pesca são classificadas no menor estrato ("baixa") com um percentual de intensidade tecnológica e participação no PIB de 0,27%, enquanto, por exemplo, a indústria farmacêutica contribui com 27,98% e produtos de informática/eletrônicos com 24%. Como o agro é "tudo" se participa tão pouco do PIB? Agro, o excluído de ser tudo.

 10. Ao rebanho: crer, portanto, no ideal do agro como impulsionador da economia é acreditar em um ídolo vazio, oco, atrofiado. Rezas, orações, danças em volta dele não mudarão o destino do país - a decadência econômica frente aos desenvolvidos.

 11. Um lembrete aos de intelecto mais reduzido: para se industrializar um país, é necessário um fortíssimo desenvolvimento educacional. E como a educação traz luz aos olhos da massa, logo é necessário que haja uma moral falsificadora que a transforme em abominação. Eis a fórmula do Brasil.

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